Olá, seja muito bem vindo ao meu Blog.

Eu Sou Janet.
Reservei este espaço para mostrar algumas coisas de meu interesse. Espero que você, visitante, também goste.
Os posts que não são de minha autoria estão com os créditos e a fonte.
Obrigada pela visita e volte sempre.




quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Educação em pauta

O mestre ignorante
Joseph Jacotot e a educação emancipadora
Por Janete Pinto

Jacotot foi um grande pedagogo francês do início do séc.XIX. Sua história foi contada por Jacques Rancière em seu livro O mestre ignorante, que o retrata com muita propriedade e se refere a ele como um “extravagante” pedagogo, com suas proposições decerto mais instrutivas que as racionais para a época. Jacotot foi um grande revolucionário em seu tempo, nos idos de 1789 na França, um país emergindo das desordens instituídas nas lutas pelas (des) igualdades sociais e na avidez por uma nova ordem que trouxesse o progresso e a capacitação dos sujeitos até os limites de que fossem capazes buscando fornecer a esses a qualificação necessária e bastante para a formação das elites e a inserção pacífica do povo na nova ordem que surgia.
Numa de suas colocações ele afirma que os partidários da proposição da igualdade não têm que instruir o povo, buscando aproximá-lo da igualdade, eles têm que emancipá-lo. Afinal, trata-se de uma questão puramente filosófica, saber se a instrução vinda do outro é uma forma de levar à igualdade ou à desigualdade.
Num outro momento ele afirma que as sociedades nessa época admitiam claramente a divisão de classes e as desigualdades. Para eles a instrução formal era um meio de levar os indivíduos da classe baixa a um termo razoável, o suficiente para que ele se sentisse inserido em algum lugar, ou melhor, em seu devido lugar. Ainda assim a classe alta se intitula como sociedade homogênea e a escola fica teoricamente encarregada de anular as desigualdades cada vez mais profundas e proclamar a redução da distância entre as classes, num esforço contínuo, que afinal vai legitimar o poder da oligarquia e que premiar apenas os melhores da escola.
Nesse contexto surge Jacotot, por volta de 1818, um leitor da literatura francesa que ensinava Retórica em Dijon e foi convidado a ensinar suas lições a alunos, onde muitos não entendiam o francês. Aceitando o convite optou por improvisar algumas técnicas na tentativa de superar as dificuldades da língua e viu, para seu espanto que os resultados superaram suas expectativas, quando seus alunos, privados de qualquer explicação acerca do livro que deveriam ler e que inclusive não sabiam o idioma, apresentaram resultados maravilhosos.
A partir desta experiência bem sucedida concluiu que a tarefa do mestre não é a de transmitir seus conhecimentos, como ele mesmo pensava até então, não é explicar e reduzir os conteúdos a elementos bem simples, mas deixar que descubram por si e efetivamente construam seu conhecimento. O nosso sistema tradicional de ensino requer muitas explanações. Os alunos sempre esperam que o mestre explique o que contém os livros. Há que ter uma explicação para que eles entendam o que já está explicado nos livros. Pensava ele que ninguém garante que as explicações dadas pelo professor serão as mesmas entendidas pelos alunos. Mas “por que teria o livro necessidade de tal assistência”? (p.21). Um pai ao invés de pagar pelo livro e depois pagar pelo explicador não poderia dar diretamente esse livro ao filho e deixar que ele se entenda com as explicações contidas ali? Seria mais fácil compreender o raciocínio de quem quer ensiná-lo a raciocinar do que raciocinar sozinho sobre o que lê? Que relação é esta entre o poder da palavra e das letras e a palavra do mestre?
Por acaso não aprendem as crianças o que nenhum mestre pode lhes explicar, a língua materna? Desde cedo não se fala deles, com eles e em torno deles? Também eles não ouvem, repetem, erram e acertam e erram de novo e continuam com o processo até aprender, observando, imitando, tomando o outro como exemplo, sem precisar de explicadores ou mestres?
Por tudo isso Jacotot refletiu e concluiu que precisava modificar e reverter esse sistema pedagógico, uma vez que todos podem compreender sozinhos, pois todos têm capacidade para isto. Na prática o que ele queria dizer é que não precisamos necessariamente saber tudo, mas cada um precisa aprender alguma coisa, qualquer coisa e assim associar isso com todo o resto. Para ele, esse é o princípio do Ensino Universal. Não se deve sobrecarregar a memória, antes, deve-se formar a inteligência.
Jacotot cria um método que ele chama de emancipador, partindo da premissa de que mesmo quem é ignorante em qualquer assunto pode aprender sozinho não necessitando de nenhum mestre para lhe decifrar o que está contido nos livros. O importante é que cada aluno seja emancipado, ou seja, tenha que buscar sua aprendizagem fazendo uso de sua inteligência apenas, sem ficar dependendo de um explicador. Para ele ninguém é mais inteligente que o outro e qualquer indivíduo que nada entenda que química pode ensiná-la para os outros, bastando que para isso, vá em busca de aprender primeiro. Assim num determinado contexto cada um vai em busca de aprender alguma coisa e depois trocará experiências com os outros, produzindo daí novos conhecimentos.
Jacotot defende que este método deveria ser usado especialmente com a população mais pobre, que sofre com os preconceitos. Entretanto, afirma ele, para emancipar alguém é preciso antes, emancipar a si mesmo; é preciso conhecer a si mesmo e as suas limitações para poder superá-las. É importante ter clareza que quem se é e qual o seu papel na ordem social. Afinal, no oráculo em Delfos está escrita a máxima: ”Conhece-te a ti mesmo” e esse deve ser o objetivo de todo cidadão e esse trabalho exige que cada um seja um artesão. Desta forma qualquer ser pensante desenvolverá, mesmo sendo ignorante, sua noção de física, de gramática, de cálculos e de fatos históricos. Assim, esse para Jacotot será realmente emancipado.

Referência
Rancière, Jacques – O mestre ignorante – cinco lições sobre a emancipação intelectual – tradução de Lílian do Valle, 3 ed. – Belo Horizonte; Autêntica, 2010





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seus comentários e dê sua opinião.Isto me ajudará a melhorar sempre. Obrigada.