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sábado, 31 de julho de 2010

Psicanálise nos contos de fadas






Em Comentada: clínica e ciência
De uma ciência transdisciplinar à clínica inspirada na Psicologia Arquetípico-Simbólica de Carl Gustav Jung.
http://www.comentada.com/comentarios-e-publicacoes
Postado por Suely Laitano Nassif



Introdução à Temática de "Alice no País das Maravilhas"
POR PEDRO SHIOZAWA

Sem ter a pretensão de uma análise técnica detalhada, que fugiria à minha competência, tem este breve relato como objetivo outro, menos audacioso vale dizer, ainda que notoriamente desafiador, apresentar algumas impressões do Filme Alice (TIM Burton, 2010) em comparação com outras vivências de caráter absolutamente particular que, em maior ou menor grau, parecem-me caminhar em direção semelhante àquela do primeiro objeto de estudo.

O primeiro impulso do cérebro entretido com o filme sempre me foi o da busca por similaridades com outras imagens outrora vistas nas telas do cinema, na música, na pintura, no desenrolar diário da rotina. Ainda que inato seja o desejo aprendido de categorizar através das diferenças os distintos gêneros da arte, tem sido exercício agradável o agrupamento de imagens outrora tão distantes através de pontos particulares, conforme faremos no presente relato. Tendo em vista este esforço rotineiro, levantaremos cinco tópicos específicos do filme Alice para alcançar nossa tese:

• a cena do cotidiano da jovem Alice;
• o coelho a correr pelo jardim;
• o gato;
• as rainhas (de copas e a rainha branca);
• o chapeleiro.


A cena do cotidiano da jovem Alice
POR PEDRO SHIOZAWA


O filme começa com o que parece uma reunião de negócios envolvendo o pai de Alice, em uma sala aconchegante de sua casa. O cenário corresponde à residência abastada de um burguês em ascensão na Inglaterra em meados do século XIX. Não observamos nenhuma figura feminina, e os tons do ambiente não são outros senão tons escuros e sem vida. A monotonia transitória é quebrada pela aparição de uma figura jovem, pálida e assustada, imersa em uma camisola longa e branca: Alice procurava seu pai pois estava tendo um pesadelo.

Assim como tantos outros, a cena inicial deste filme, busca de maneira quase caricata contextualizar determinado conjunto de cores, de falas, de cenários, de modo a fazer com que, a quebra subseqüentemente produzida pela entrada de algum personagem ou objeto fatídico se faça notar de maneira mais drástica: o que vemos é o contraste.

Assim como no presente filme, tantos outros apresentam o mesmo recurso. Desta maneira tem sido uma infinidade de filmes, de livros, de cenas, de músicas. Sempre a buscar no contraste, o impacto. Citamos a transformação do Sr. Anderson à figura mitológica de Neo em Matrix (Watchonscki brother, 1999), a metamorfose de Anakin Skywalker em um cavaleiro Jedi em Star Wars episódio IV (G. Lucas, 2000), os traços cubistas e doces de Picasso na Flor que se perde no horror do Massacre de Guernica (Picasso, 1966), ou ainda o dueto angelical entre um tenor e um baixo que culminam com a explosão de um coro de 100 vozes na 9º Sinfonia do mestre Beethoven.

Nossos sentidos trabalham com opostos, de modo que o branco existe, pois existe o negro; não contemplamos de costume a coisa sem que tenhamos projeção mental da não-coisa. A identificação inicial de contrastes torna qualquer objeto de interesse mais tangível, menos remoto; a arte mais abstrata, ganha concretude se comparada: os traços de Magritte ganham mais sentido se vistos à sombra do mais concreto Dali.

Mas não fujamos por demais do tema central neste momento: a Alice, esta que exerce sobre todos os demais papéis, o de heroína. J Campbell com suas infinitas possibilidades já definiu o herói como aquele ser capaz da submissão autoconquistada, aquele que vinga na árdua batalha contra as impenetráveis entranhas próprias. Alice não foi outra que são o personagem de quem falou o mitologista. Imersa nas profundezas do tempo, nas tortuosas incertezas de nossas próprias impenetráveis entranhas, iniciou sua jornada, ao seguir o coelho branco, de quem nos ocuparemos a seu momento. Por ora fiquemos com a jovem protagonista a cair no buraco sob a árvore no alto da colina.


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a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias
inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.
(C. Drummond de Andrade)
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No ponto simbólico de contato com o transcendente, no cume do fluir entre o céu e a terra, no alto da colina havia uma árvore e nela a possibilidade da jornada. E qual não terá sido maior jornada do que a empreendida por aqueles que perderam a unidade transcendente do paraíso para alcançar a dor do tempo e o suor do espaço? E tudo pela maçã tentadora de ter conhecido, pela possibilidade do poder vir a ser, mas vir a ser o quê? Reflexo, quem sabe.


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E agora, José?
(...)

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?
(C. Drummond de Andrade)
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Tendo iniciado sua jornada sem saber que a jornada iniciava, a jovem Alice adentrou em terreno já antigo, no espaço secreto onde outrora transitava livremente e o terreno antigo pode ser palco para a fatídica viagem. No cume incerto do topo do mundo a tangenciar a além do mundo, a protagonista pode enfim imergir-se em si mesma e cavalgar os primeiros momentos de sua batalha que, como disse uma paciente minha, haveria de ser marcada por crescimentos e encolhimentos, superações e perdas: remodelação, metamorfose. A Alice que adentrava os negros portões de sua mente marchava ao encontro da libertação de si mesma, rumo ao poder vir a ser algo maior que seu ego. A Alice que se tornava gradativamente Alice viria a matar o dragão, a cobra-alada, mas não sem antes sacrificar-se em prol de algo maior, do transcendente em que, mesmo sem conhecer, acreditava.


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Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
(Fernando Pessoa)
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Filosofia e Psicanálise - Lacan e Sócrates -II

Complementando o texto anterior, onde falávamos sobre Lacan e Sócrates, seguem as partes finais deste trabalho.

Escrito por Walter Cezar Addeo



A Mulher Não Existe


O masculino estará sempre atrás de um fantasma idealizado de mulher. Do feminino que só existe em sua carência e vazio. Elas jamais poderão preencher isso.

É famosa a apropriação de Lacan do conto de Edgar Allan Poe intitulado A carta roubada, em que ele mostra que assim como o sentido último dos significantes nunca é alcançado, esta carta roubada também tem vários destinatários e nenhum; seu conteúdo nunca pode ser apropriado inteiramente, mantendose apenas como uma potencialidade de sentido e, no caso do conto de Poe, uma potencialidade de poder para quem a possui. Metáfora certeira para a palavra que sempre cerca seu sentido, mas nunca o alcança.




Édipo e a Esfinge, de François-Xavier Fabre A estruturação do Édipo se dá na infância, quando se reconhece a interdição da possibilidade de gozo pleno com a mãe por ela pertencer ao pai. Na tese lacaniana, tal interdito é denominado "O Nome-do-Pai"


Por mais visível e audível que as palavras sejam, elas nunca podem ser decifradas totalmente - seu significado sempre desliza e escapa - da mesma maneira que a carta roubada, no conto de Poe, desliza continuadamente por vários possuidores.

Mesmo estando perfeitamente visível e disponível em cima da lareira, nunca é vista pelos que a querem encontrar. Bem, a mulher e o desejo do homem pela mulher teriam também essa característica. Por mais próxima que a mulher esteja do homem, ela é sempre invisível para ele, o que fará Lacan formular a frase paradoxal de que a mulher não existe. Frase aparentemente absurda e que causou polêmica.

Como dizer isso se o homem faz sexo com uma mulher desde sempre? Lacan dirá que os homens, na verdade, fazem sexo com todas as mulheres e não com uma em especial, repetindo no seu inconsciente o tempo da horda primitiva, em que todas as mulheres pertenciam a um único Pai mítico, dono do falo.

A mulher como individualidade lhe escapa sempre. Na verdade, ela, como todo objeto de desejo, pertence à esfera desse "objeto a", parcial, metonímico por definição, mas que consegue ancorar a pulsão do desejo por algum tempo. A mulher real e individual presente no ato sexual representa, portanto, apenas uma possibilidade nessa série infinita que alucina o masculino.

O filme Closer, do diretor Mike Nichols (do roteiro baseado na peça teatral homônima de Patrick Marber) pode ser utilizado como exemplo. Este texto parece ter um segundo roteirista oculto, o próprio Lacan. O título na versão brasileira recebeu um acréscimo, tornou-se Closer - Perto demais. Lacan concordaria com o acréscimo. Perto demais, a mulher torna-se ainda mais inexistente para o masculino.

Cena de uma stripper, no filme Closer. A personagem exibe-se nua, mas a ninguém revela seu mundo interior, o que reproduz a ideia lacaniana de que a mulher não existe porque o homem nunca a vê como realmente é visível e oculto.

Inicialmente, o roteiro cria profissões emblemáticas que já definem o que acontecerá com o relacionamento dos amantes. Dan é um jornalista encarregado da seção de obituários. Ele mesmo conta como os obituários são redigidos para esconderem sempre a pessoa real.

O que de fato as pessoas foram na vida não importa nos obituários. Mas sim, a visão edulcorada e elegante em que todos se transformam em pais amantíssimos, esposos fiéis e profissionais competentes, mesmo que tenham sido sempre o oposto disso tudo.

Ou seja, nem mesmo na morte, revelamos o que somos de fato. O falso obituário dos jornais incumbe-se de manter o distanciamento necessário da pessoa real. O obituário, que deveria revelar finalmente a pessoa, a mantém, agora, definitivamente distante.

Anna, por sua vez, é fotógrafa especializada em retratos de desconhecidos que ela fotografa em grandes closes. Rostos anônimos, mas ela os exibe em grande proximidade, em grandes ampliações. Mesmo com tal exposição ampliada, eles continuam desconhecidos. É uma falsa aproximação. Rostos próximos demais. Tão desconhecidos quanto os das mulheres quando elas se apresentam para os homens que pensam que as vêm por inteiro e acreditam saber o que elas são e o que estão vendo.

Larry é médico dermatologista. Perto demais do corpo das pessoas. Próximo da pele. Mas nunca além. O dermatologista se detém na epiderme das pessoas, nunca ultrapassando esse limite externo do corpo. Nunca penetrando realmente no âmago do paciente. Sempre na epiderme, nesta exterioridade que nos delimita do exterior. Assim será também em seus relacionamentos com o feminino. Nunca indo além da sexualidade explícita. Não é à toa que será ele quem exigirá tudo da stripper. Visão total. Mesmo assim, ele não conseguirá ir além da epiderme ginecológica da mulher.



O Casamento de Peleus e Thetis, de Cornelis Van Haarlem. Uma mulher, como ser individual, contém o desejo masculino por algum tempo. Mas é apenas uma possibilidade na busca sexual que o alucina, explica Lacan


Jane, por sua vez, é a stripper que se dá totalmente ao olhar do masculino. Olhar que nunca consegue ir além do seu corpo em exibição, da sua epiderme. Pertos demais do seu corpo nu, os olhares masculinos estão sempre longe demais dela como mulher. Ela é a que encerra, em sua profissão, o paradoxo dessas relações íntimas que estão sempre à distância. Ela é um "objeto a" por excelência, pois oferece seu corpo como objeto parcial de um desejo nunca realizado.

Neste jogo de espelhos falsos, de miradas falsas, ela é um equívoco desde o início do filme. Jane, desde seu primeiro encontro com Dan, usa um nome falso - Alice. O relacionamento dos dois já inicia com uma Alice que não existe. É emblemático que a primeira frase que Alice dirige a Dan, logo no início do filme, seja "Olá estranho!".

O filme será justamente sobre esse eterno estranhamento entre homens e mulheres dentro da cultura. A relação deles será, portanto, um labirinto de aproximações falsas. Eles estão obcecados em fazer sexo com elas e saber dos detalhes eróticos quando elas os traem. Claro, tudo temperado com o pretexto de que as amam acima de tudo. Isso não impede que eles a traiam.

E vice-versa. Mas o que seria do erotismo deles se não fossem as traições que eles pressentem e de certa forma, inconscientemente, estimulam? Como Lacan nos observou, há sempre um terceiro envolvido em toda relação sexual, que pertence ao imaginário masculino e que é justamente essa fantasmagoria da mulher e sua sexualidade inesgotável. Elas sabem que eles são assim mesmo e respondem suas intermináveis perguntas com todos os detalhes eróticos que eles exigem. Eles, entretanto, nunca sabem exatamente o que elas são e se o que dizem é verdadeiro. Como Lacan dissera, elas não existem para eles como individualidade

O homem está preso à fantasia original de desejo por todas as mulheres e por aquela mãe interditada que pertenceu ao Pai mítico.

Nesse sentido, é lapidar a cena em que os dois homens acessam a internet, numa dessas salas de encontros, e um deles finge que é uma mulher. O namoro virtual logo descamba para uma espécie de sexo virtual. O que prova que para o homem basta que ele tenha uma projeção de mulher em sua mente para que tudo funcione e a relação sexual se faça (daí essa relação, no fundo, ser inexistente).

Afinal, tudo não passa mesmo de uma fantasmagoria masculina. Portanto, tanto faz ser uma falsa mulher virtual com quem ele conversa na internet ou uma mulher real que ele fantasia. A mulher real não existe nunca para o homem. Está para além de suas possibilidades, uma vez que ele está preso à fantasia original de desejo por todas as mulheres e por aquela mãe interditada que pertenceu ao Pai mítico. Relaciona-se, então, com sucedâneos simbólicos incompletos desse poder do pai. Há, portanto, uma impossibilidade ontológica de que esses dois gêneros possam se encontrar realmente.

Daí a necessidade de uma retórica amorosa para que eles criem um simulacro de relacionamento. Mas quando esses diálogos se dão no filme, surgem numa chave cínico-irônico-amorosa paradoxal que corta cirurgicamente a velha retórica amorosa com que os filmes românticos costumam anestesiar suas plateias. Revelam magistralmente o que realmente está por debaixo dos arrulhos amorosos dos casais enamorados


   

Casal Rustico, de Albrecht Dürer. A mulher, diferente do homem, não passa pela interdição do desejo na infância e não vive na busca incessante de preencher um vazio. Para Lacan, homens e mulheres não são iguais
O masculino estará sempre atrás de um fantasma idealizado de mulher. Do feminino que só existe em sua carência e vazio. Elas jamais poderão preencher isso


Talvez, a cena em que mais se revele essa fissura entre homem e mulher seja a do clube noturno onde Alice/Jane faz strip-tease. A figura da stripper é simbolicamente carregada.

Essa mulher que se despe completamente para os olhares masculinos estaria, portanto, tão próxima fisicamente dele que, finalmente, ele poderia dela se apropriar inteiramente. Entretanto, nesse momento de aproximação máxima é, justamente, quando ela fica mais distante, constituindo-se em simulacro inatingível de desejo e de fantasia.

No clube, Larry, um dos lados desse quarteto improvável, pede para vê-la totalmente nua e ainda paga para que ela exiba suas partes íntimas, da maneira mais crua. Aproximação visual máxima do corpo feminino que, entretanto, não preenche as frustrações e desejos do homem.

Ele também paga alto para que ela lhe diga seu nome verdadeiro. Ela o diz. Mas ele pensa que ela mente. E ela não esclarece a confusão dele. Não é preciso. Ele nunca saberá mesmo o que as mulheres são, qual o nome certo que elas têm. Tanto faz, portanto, seu nome verdadeiro que ele pensa ser falso.

O seu corpo perfeito de stripper, apesar de cruamente nu e real, também é um velamento, uma alegoria de todas as mulheres possíveis. E não adianta que ele a veja assim tão de perto e despida. Para ele, a mulher como individualidade, como outro sujeito também ferido pela castração narcisística, sempre estará para longe de suas possibilidades. Aqui a visibilidade total da mulher é índice do seu total ocultamento, o que nos remete novamente à símile da "carta roubada" do conto de Poe, que também está oculta justamente por estar totalmente visível sobre a lareira da sala


Para Lacan, a mulher real não existe para o homem. O que há é a projeção que cria em sua cabeça. Por isso, ele é capaz de se realizar com mulheres virtuais, talvez fantasiosas
Nuas e perto demais, elas, paradoxalmente, são sempre invisíveis. O masculino estará sempre atrás de um fantasma idealizado de mulher. Do feminino que só existe em sua carência e vazio. Elas jamais poderão preencher isso. Só poderiam fazê-lo se concordassem em ser o objeto fantasmal deles, encarnando para o homem a significação da castração e, assim, transformarem-se num falo compensatório. E elas sabem disso.

Por isso mesmo, fingem que são as mulheres que eles pensam que vêm e amam. Que uma delas, Anna, introjete essa culpa e impossibilidade de relacionamento real, apenas a faz prisioneira total dessa carência masculina que na verdade não concerne às mulheres. De certo modo, ela é infeliz porque eles são infelizes com elas e estão a se relacionar sempre com mulheres inexistentes.

Portanto, a frase de Lacan, aparentemente absurda, encontra em Closer sua ilustração. A mulher realmente não existe. É a demonstração dessa frase que pareceu insultuosa às feministas, mas que, na verdade, revelava o jogo de espelhos falsos na relação do masculino com o feminino. Ambos preenchem momentaneamente e por pouco tempo o vago fantasma que o "objeto a" tenta compensar.

Desses fantasmas é que cada um - homem e mulher - estão enamorados por algum tempo. Não é à toa, portanto, que o filme comece e termine com uma mulher nas ruas envolvida pelos olhares masculinos que passam. Esses olhares fugazes e oblíquos as reconstroem muito longe do que elas realmente são.

Perto demais do feminino é sempre muito longe para o masculino. Eros nunca preencherá essa carência, seus objetos de desejo sempre lhe escaparão por algum furo, por algum vazio, por mais astúcia que utilize em sua captura. Somos seres desejantes destinados a incompletude, e é isso que nos faz caminhar. Lacan já sabia dessa carência do pequeno deus Eros pela voz de Sócrates quando retomou o tema do amor nos seus seminários. Perto demais do desejo é sempre longe demais.

REFERÊNCIA

DOR, Joel - Introdução à leitura de Lacan: o inconsciente estruturado como linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989 
JAKOBSON, Roman - Linguística e comunicação. São Paulo: Cultrix, s/d 
LACAN, Jacques - Seminário 8: A transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1992 
IDEM - Seminário 18: De um discurso que não fosse semblante. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009
IDEM - Seminário 20: Mais, ainda. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1982 
IDEM - Escritos. São Paulo: Editora Perspectiva, 1978
MILLOT, Catherine - Nobodaddy, A histeria no século. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988 
PLATÃO - "O Banquete" in Obras completas, Aguilar, 1972 
ROUDINESCO, Elisabeth - Jacques Lacan: esboço de uma vida, história de um sistema de pensamento. São Paulo: Cia. das Letras, 1994


Educação e comportamento

Para hoje escolhi um tema que acho fundamental. Como educadora que também sou não pude me furtar o prazer e a satisfação de trazer para vocês umas pinceladas de Içami Tiba, um dos meus autores preferidos.

Dr. Içami Tiba, médico psiquiatra, trabalha no Hospital das Clínicas da FMUSP, já realizou mais de 76 mil atendimentos psicoterápicos a adolescentes e  famílias na clínica particular. Palestrante renomado no Brasil e no mundo, autor de 22 livros sobre educação e comportamento humano com mais de 2 milhões de exemplares vendidos, já fez mais de 3.300 palestras, autor do best-seller "Quem ama, educa" nos fala sobre como devemos educar,  nossos filhos, para a vida, para o bem da sociedade e para a felicidade deles mesmos.

Segundo ele "os pais podem dar alegria e satisfação a um filho, mas não há como lhe dar felicidade.
Os pais podem aliviar sofrimentos enchendo-os de presentes, mas não há como lhe comprar a felicidade.
Os pais podem ser muito bem-sucedidos e felizes, mas não há como lhe emprestar a felicidade.

Mas os pais podem aos seus filhos
Dar  muito carinho, amor e respeito,
Ensinar tolerância, solidariedade e cidadania,
Exigir reciprocidade, disciplina, religiosidade,
Reforçar a ética e a preservação da Terra.

Pois é de tudo isso que se compõe a auto-estima.
É sobre a auto-estima que repousa a alma,
E é nessa paz que reside a felicidade."




A educação por Içami Tiba: ‘falta cidadania familiar’ 

Este texto você pode encontrar no Jornal O diário do norte do Paraná 
(em http://estrategiaempresarial.wordpress.com/2008/04/16/a-educacao-por-icami-tiba-diz-falta-cidadania-familiar/


Jovens indisciplinados, sem limites, pais à beira de um ataque de nervos… Ultimamente, falar de indisciplina e agressividade dos mais novos parece chover no molhado. O psiquiatra e escritor Içami Tiba que o diga.


Especialista em temas inerentes à adolescência, autor de mais de 22 livros e com 3.300 palestras no currículo, o psiquiatra afirma que a falta de limites carrega o peso de ser a responsável por uma geração desinteressada e sem cidadania.


“Os pais aceitam que os filhos façam o que têm vontade para não contrariar, achando que assim eles serão líderes. É um engano.”


De acordo com o psiquiatra, cobrar bons exemplos é a receita para a consolidação da cidadania, em vez de copiar más condutas. E isso pode ser aprendido em casa.


“Os pais não podem perder de vista o sentido educativo das coisas, principalmente do dinheiro. Isso é ter responsabilidade.”


Leia a seguir trechos da entrevista concedida a O Diário:


O senhor já fez mais de 2.500 palestras sobre disciplina e limites. As pessoas não entendem o que está sendo dito ou o tema exige essa repetição toda?


“Eu acho que os pais perderam a referência de educação e passaram só a prover sem autoridade. Os filhos não ouvem os pais, fazem o que têm vontade e os pais acabam aceitando para não contrariar, achando que se o filho fizer o que tem vontade será um líder. Aí que está todo o engano de posição na vida. Líder não é aquele que faz o que tem vontade, mas faz com que o outro produza o melhor que pode. É um gerenciador de pessoas e não um escravo. E os pais se colocam na posição de escravos da vontade dos filhos, estão sendo tiranizados.”


Desde quando isso tem ocorrido?


“Há cinco anos era menos. Depois do lançamento do livro “Quem ama, educa”, em 2003, muita gente começou a acordar para o problema. E sempre tive muito movimento no consultório, que reflete a sociedade.”


É um termômetro?


“Sim. Neste período as problemáticas mudaram. Mães que não sabem o que fazer em casa, filhos tirânicos, enfim, demonstrações da perda de controle sobre a educação. E aí eu vi que está faltando a cidadania familiar, aquele esquema de educação que seja um projeto e não algo que se dá na base da perda do controle e das emoções. Por isso reescrevi o livro “Quem ama educa! Formando cidadãos éticos”. Esta é a maior preocupação hoje. A indisciplina resultou em uma geração de adolescentes que não está bem, sem persistência, sem cidadania, desinteressada, que não agüenta contrariedades.”


A impunidade, que impera nos estratos sociais e políticos mais altos, não contribui com isso?


“E é isso o que quebra o padrão educativo da cidadania. Ele não é cidadão quando copia maus exemplos em vez de exigir que as pessoas dêem bons exemplos. “Já que todo mundo faz, vou me permitir a fazer também”. Esse é um grande erro. Ninguém pode achar que vai poder fazer o que tem vontade e ponto final. Agora, onde se aprende isso? Em casa. De que maneira? Por meio do desvio de verba.”


Como é isso?


“A criança pega dinheiro para o lanche mas gasta em figurinha. E os pais ficam quietos. O que aconteceu? O pai deixou de olhar para o sentido educativo do dinheiro que é a responsabilidade que o filho deveria ter tido. O dinheiro não era dele, filho, era do pai. O político faz o quê? Pega o dinheiro do povo, para aplicar em Educação e gasta tudo em figurinha. Então nós temos que construir uma nova geração para o Brasil que vamos deixar. Esse é o meu sonho.”


Via Jornal O Diário do Norte do Paraná

Filosofia e Psicanálise

A todos aqueles que pretendem caminhar na senda da filosofia e da psicanálise uma boa leitura,
que pretendo postar em duas partes. Esta é a primeira delas.

Assim como uma deliciosa comidinha caseira deve ser degustada com todo prazer, este texto da mesma forma, é para ser apreciado e estudado com muito afinco.


O amor na teoria de Jacques Lacan

"O gozo pleno, oriundo da mãe, é interditado pelo pai. A partir daí, o homem vive uma busca constante por sanar sua incompletude. Cada mulher é uma tentativa, sempre fracassada, de saciar seu desejo primordial".

                                             Por Walter Cezar Addeo - waddeo@uol.com.br em 
                                      http://leiturasdahistoria.uol.com.br/ESFI/Edicoes/38/artigo147897-2.asp

Tão célebre quanto o desabafo de Freud quando perguntou exasperado - "afinal, o que querem as mulheres?" (e ele realmente não sabia) -, foram duas frases de Jacques Lacan ao enunciar que "a relação sexual não existe" e, finalmente, que "a mulher não existe". Dois paradoxos, aparentemente, uma vez que a humanidade se mantém por intermédio do ato sexual e as mulheres representam metade da espécie humana.

Para esclarecer essa questão, teremos de refazer alguns percursos da teoria lacaniana e colocar alguns personagens ficcionais em seu divã a título de ilustração. Em seu seminário intitulado A transferência, Jacques Lacan (1901-1981) fará uma belíssima exegese do texto conhecido como O banquete, em que Platão nos apresenta Sócrates falando sobre o amor, sobre o desejo e onde encontramos a gênese de um dos conceitos lacanianos fundamentais para sua teoria - "o objeto a" - este estranho dispositivo que arrastará o desejo humano para uma deriva sem fim, mesmo tentando ancorá-lo em soluções parciais.

Do que trata esse diálogo platônico? Primeiramente, ele nos é contado em terceira mão. Platão não estava presente quando os fatos aconteceram. Ele ouve o relato da boca de Apolodoro que, por sua vez, o ouvira de Aristodemo, o qual participara efetivamente do simpósio oferecido por Agatão. Nesse simpósio, falaram Pausânias, Eriximaco, Aristófanes, o próprio anfitrião Agatão e finalmente Sócrates.

Todos falam sobre o amor que é o tema escolhido para aquela noite. Alcibíades faz uma entrada tardia e coloca Sócrates numa situação delicada ao revelar a relação amorosa e de admiração que ambos teriam um pelo outro. Lacan irá analisar cada uma dessas falas, privilegiando o diálogo final entre Sócrates e Alcibíades que nos apresentará o termo "Agalma", uma das primeiras formulações do que será futuramente o "objeto a".

Interessanos apenas uma em especial. A fala de Sócrates, que na verdade, não seria propriamente dele, pois ele estaria apenas relatando o que ouvira de Diotima de Mantinéa, ou seja, apesar de não estar presente no banquete, ela fala pela boca de Sócrates. Lacan defenderá a tese de que é Sócrates quem realmente fala, por meio de sua "alma feminina" e que usa esse subterfúgio, inclusive, para não constranger seu anfitrião Agatão, cujas teses serão desconsideradas. E o que fala Diotima de Mantinéa por meio de Sócrates? Um relato psicológico sobre a gênese do amor que espanta pela argúcia e modernidade, ao ponto de Lacan o recuperar por completo em sua clínica. Vejamos o relato:

"A libertação do desejo conduz à paz interior" 
LAO-TSÉ


Em O Banquete, Platão faz uma genealogia do amor e atribui suas ideias a uma explicação dada a ele por Diotima de Mantinéa, que diz ser uma sacerdotisa grega

Diotima conta que Eros, o deus do amor, foi gerado no dia em que nasceu Afrodite, quando os deuses participavam de um banquete. Entre eles estava Poros, filho de Métis, também chamado de "o astucioso", "aquele que tem expediente", que, completamente embriagado com néctar, entrou no jardim de Zeus e adormeceu.

Este nome, etimologicamente, também remete à ideia de uma abertura, uma passagem, uma travessia, enfim, um furo, um vazio. Terminado o jantar dos deuses e apesar de não ter sido convidada, aparece Penia que veio mendigar restos do festim.

Penia é a personificação da pobreza, da carência. Etimologicamente provém de um verbo que significa "afligir-se", "trabalhar por necessidade", "esforçar-se com" e posteriormente também agrega os sentidos de "estar em dificuldade", "ser pobre". Penia em sua miséria ao ver Poros embriagado e adormecido desejou ter um filho com ele. Deitou-se ao seu lado e concebeu Eros.

Eros trará consigo as marcas dessa dupla gênese. De sua mãe Penia, cuja pobreza a define como eterna mendicante, ele herdará uma falta congênita e se esforçará sempre para obter aquilo que não tem, ou seja, vive sob o emblema de uma carência jamais preenchida, mas que se esforçará por compensar.

Para isso herdou de seu pai Poros a astúcia e o expediente necessários para tentar conseguir aquilo que não possui.

Eros, o deus do amor, nasceu de Penia (carência, pobreza) e Poros (astúcia). Da dialética entre carência e astúcia move-se o desejo.

Dessa dialética entre carência e astúcia movese o desejo, agita-se Eros infinitamente. É a matriz lógica, remota, desse futuro "objeto a" teorizado por Lacan, essa letra que procura e está sempre no lugar de um "outro" que nunca é alcançado.1 Em Lacan, essa incompletude e carência universalizam-se, atingindo agora toda e qualquer pulsão do desejo.

Mas como se verá na aventura da Psicanálise, toda atualização do desejo será sempre sob uma forma parcial, compensatória para apoderar-se daquilo que Lacan chamou de "o Nome-do-Pai", essa nova fórmula interpretativa do complexo de Édipo levada a efeito pela revolução lacaniana que, expandindo seu antigo sentido freudiano, integrou homens e mulheres em uma mesma aventura psíquica.

Para as referências etimológicas foi utilizado o Dicionário Mítico-Etimológico, vol. II de Junito Brandão, Edit. Vozes, Petrópolis, 1992.


O Dia da Morte, de William-Adolphe Bouguereau. Lacan afirma haver algo além do sujeito desejante e que ele busca para si. A resposta sobre o que seria está ligada à ideia de luto, de uma perda, de algo que não mais existe.


Para entendermos um pouco melhor essa novidade teórica da clínica lacaniana, lembremos que esse símbolo "a", constante no termo "objeto a" não se refere à primeira letra do alfabeto, mas à primeira letra da palavra francesa "autre" (outro, em português) e que essa letra "a" em minúsculo qualifica, portanto, sempre uma alteridade, alguma coisa que está para além do sujeito desejante e que ele quer para si.



Assim, quando esse "objeto a" se instala como função psíquica compensatória, temos de procurar responder sempre quem é esse "outro" que se coloca no lugar do meu desejo. Lacan começaria a pensar este conceito a partir da leitura de Luto e Melancolia de Freud. Juan-David Nasio observa com bastante acuidade que neste artigo, "ao se referir à pessoa que foi perdida e de quem se faz o luto, Freud escreve a palavra "objeto", e não "pessoa".

Freud, portanto, já fornece a Lacan uma base para responder à pergunta "quem é o outro?" e construir seu conceito de objeto a."

Note-se que nesta gênese freudiana do conceito lacaniano já se inscreve a ideia de uma perda, de alguma coisa que não existe mais, de um fantasma do qual temos de fazer o luto para nos libertarmos de sua lembrança.

Para o homem é o trauma da castração, da perda simbólica do falo, da necessidade de ter acesso ao Nome-do-Pai, essa instância de poder que precisará ser recuperada de alguma forma. Portanto instaura-se aqui uma carência que só poderá ser preenchida parcialmente ou transformada em narrativa na clínica psicanalítica, quando, então, no processo de transferência, o analista assume ser o "objeto a", tornando-se, ele mesmo, este "outro do desejo" do analisando para que ele o supere.

2 NASIO, J.D. - Cinco lições sobre a Teoria de Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993, p. 92

Inconsciente

Avancemos mais de 2 mil anos da cena desse Banquete para encontrar Jacques Lacan num dos seus seminários, denominado O desejo e sua interpretação, em que ele inicia a conceitualização do que chamou inicialmente de "pequeno objeto a", tema que além de ser um desdobramento do conceito de "o Nome-do-Pai" remeteu o inconsciente para uma leitura definitivamente linguística.

Lacan entenderá o inconsciente radicalmente estruturado como uma linguagem, e isso terá consequências sérias tanto na prática psicanalítica quanto na teoria linguística, abrindo duas frentes de batalha. Por corresponder a um inconsciente entendido como falta, a linguagem, ela mesma, será para sempre incompleta em sua significação. Entre a nomeação das coisas e sua significação haverá sempre uma sutura mal feita.

Assim, nenhum significante comportará um significado completo e irredutível, mas deslizará constantemente por uma cadeia de significantes arbitrários, sem nunca ter fim. Só uma atitude comandada pela necessidade pragmática de comunicação é que pode interromper, barrar esse sentido sempre em aberto do significante e fazê-lo cristalizar-se por algum tempo. Mas o desejo sempre conseguirá fazer que os significantes se movam e falará através das fissuras deixadas descobertas.


                                        Eros e Afrodite, de Henri Camille Danger. Eros, deus do amor, é filho de Penia, representante da penúria, e de Poros, ligado à astúcia. Por isso é mendicante, mas cheio de artimanhas. Assim seria o desejo, segundo Lacan


Essa visada linguística do inconsciente, iniciada por Lacan quando de suas leituras da obra de Ferdinand de Saussure, irá encontrar sua solução madura na leitura que fará de Roman Jakobson. Nesse momento, introduz em sua teoria dois elementos novos: a metáfora e a metonímia.

Elas serão para Lacan as duas leis fundamentais do inconsciente. Deslocamentos (metonímias) e condensações (metáforas) responderão também pela fala do inconsciente, onde a estrutura metonímica de justaposições e acoplamentos será o ponto de referência para caracterizar a estrutura do desejo.

No processo metonímico temos um deslocamento em que uma parte é tomada pelo todo, da mesma forma que no "objeto a" alguma coisa toma o lugar, parcialmente, do desejo interditado ao sujeito. Igualmente, na metáfora, alguma coisa é substituída em seu sentido por outra, o que se pode flagrar facilmente na narrativa dos sonhos, sempre metafóricos por excelência.

Desde o início, portanto, é inerente ao conceito lacaniano de "objeto a" a ideia de que ele também desloca alguma coisa, tentando compensar uma "falta-aser (conforme o léxico lacaniano), colocando no lugar algo sobre o qual o sujeito pode falar. Assim, o sujeito desejante desenvolverá certa astúcia ao tentar aprisionar brevemente esse astuto objeto "a" em alguma forma transitória de satisfação, de gozo.

Uma astúcia destinada sempre a ser uma compensação e que instaura apenas uma satisfação parcial, metonímica, diante do desejo. Portanto, uma relação de substituição que transformará todo "objeto a", escolhido pelo sujeito desejante, num fantasma. E a maior fantasmagoria eleita pelo masculino será o do feminino, visado como objeto de gozo total, impossível de ser completado.

A maior fantasmagoria eleita pelo masculino será o do feminino, visado como objeto de gozo total, impossível de ser completado


Este gozo total pertenceria ao desejo pela mãe, interditado e castrado simbolicamente na estruturação do Édipo quando a criança desiste da mãe, da relação incestuosa com essa mulher que "pertence" ao Pai e que lhe é interditada pela Lei do Pai. Essa instância de interdição - o tabu do incesto - é introjetada simbolicamente pela criança como uma forma de castração e, imediatamente, na tese lacaniana, esse interdito que tem raízes antropológicas passa a ser denominado de "O Nome-do-Pai".

Ao introjetar essa Lei do Pai que proíbe o incesto com a mãe - seu objeto primário de desejo, de gozo total - a criança agora se inscreve na ordem cultural que emana desse Nome-do-Pai. Leis normativas que o definirão como um ser social que aceitou essa castração para se inserir na ordem da cultura e a quem faltará para sempre esse falo simbólico ao qual, miticamente, todas as fêmeas pertenceram um dia e que, agora, pertence ao pai que lhe interdita e o castra com relação à mãe e cujas funções ele procurará recuperar parcialmente por meio de "objetos a" metonímicos.

O falo neste contexto será sempre o significante de uma falta. Nesse sentido é que se pode entender a frase de Lacan quando diz que a "relação sexual não existe". Realmente, como "relação total", como recuperação de um "gozo total", esta relação estará para sempre interditada ao masculino. Aqui a mulher se apresenta, radicalmente, como um "inteiramente outro" para o homem ao qual ele não teria acesso, uma vez que ela não participa dessa síndrome da castração original, não precisou introjetar uma perda simbólica abissal para se constituir como sujeito.


 

Homens e mulheres realmente não são iguais na relação sexual. Portanto, é essa possibilidade de relação simétrica que é declarada inexistente. Afinal, como já se disse, "o Édipo produz o homem, não produz a mulher".3

3 SOLER, Colette - O que Lacan dizia das mulheres. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005, p. 17


Breve você poderá ler a segunda parte. Aguarde.





Literatura

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Nos veremos no Portal do Domínio Público.
Abraço.

 


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