Olá, seja muito bem vindo ao meu Blog.

Eu Sou Janet.
Reservei este espaço para mostrar algumas coisas de meu interesse. Espero que você, visitante, também goste.
Os posts que não são de minha autoria estão com os créditos e a fonte.
Obrigada pela visita e volte sempre.




sábado, 31 de julho de 2010

Psicanálise nos contos de fadas






Em Comentada: clínica e ciência
De uma ciência transdisciplinar à clínica inspirada na Psicologia Arquetípico-Simbólica de Carl Gustav Jung.
http://www.comentada.com/comentarios-e-publicacoes
Postado por Suely Laitano Nassif



Introdução à Temática de "Alice no País das Maravilhas"
POR PEDRO SHIOZAWA

Sem ter a pretensão de uma análise técnica detalhada, que fugiria à minha competência, tem este breve relato como objetivo outro, menos audacioso vale dizer, ainda que notoriamente desafiador, apresentar algumas impressões do Filme Alice (TIM Burton, 2010) em comparação com outras vivências de caráter absolutamente particular que, em maior ou menor grau, parecem-me caminhar em direção semelhante àquela do primeiro objeto de estudo.

O primeiro impulso do cérebro entretido com o filme sempre me foi o da busca por similaridades com outras imagens outrora vistas nas telas do cinema, na música, na pintura, no desenrolar diário da rotina. Ainda que inato seja o desejo aprendido de categorizar através das diferenças os distintos gêneros da arte, tem sido exercício agradável o agrupamento de imagens outrora tão distantes através de pontos particulares, conforme faremos no presente relato. Tendo em vista este esforço rotineiro, levantaremos cinco tópicos específicos do filme Alice para alcançar nossa tese:

• a cena do cotidiano da jovem Alice;
• o coelho a correr pelo jardim;
• o gato;
• as rainhas (de copas e a rainha branca);
• o chapeleiro.


A cena do cotidiano da jovem Alice
POR PEDRO SHIOZAWA


O filme começa com o que parece uma reunião de negócios envolvendo o pai de Alice, em uma sala aconchegante de sua casa. O cenário corresponde à residência abastada de um burguês em ascensão na Inglaterra em meados do século XIX. Não observamos nenhuma figura feminina, e os tons do ambiente não são outros senão tons escuros e sem vida. A monotonia transitória é quebrada pela aparição de uma figura jovem, pálida e assustada, imersa em uma camisola longa e branca: Alice procurava seu pai pois estava tendo um pesadelo.

Assim como tantos outros, a cena inicial deste filme, busca de maneira quase caricata contextualizar determinado conjunto de cores, de falas, de cenários, de modo a fazer com que, a quebra subseqüentemente produzida pela entrada de algum personagem ou objeto fatídico se faça notar de maneira mais drástica: o que vemos é o contraste.

Assim como no presente filme, tantos outros apresentam o mesmo recurso. Desta maneira tem sido uma infinidade de filmes, de livros, de cenas, de músicas. Sempre a buscar no contraste, o impacto. Citamos a transformação do Sr. Anderson à figura mitológica de Neo em Matrix (Watchonscki brother, 1999), a metamorfose de Anakin Skywalker em um cavaleiro Jedi em Star Wars episódio IV (G. Lucas, 2000), os traços cubistas e doces de Picasso na Flor que se perde no horror do Massacre de Guernica (Picasso, 1966), ou ainda o dueto angelical entre um tenor e um baixo que culminam com a explosão de um coro de 100 vozes na 9º Sinfonia do mestre Beethoven.

Nossos sentidos trabalham com opostos, de modo que o branco existe, pois existe o negro; não contemplamos de costume a coisa sem que tenhamos projeção mental da não-coisa. A identificação inicial de contrastes torna qualquer objeto de interesse mais tangível, menos remoto; a arte mais abstrata, ganha concretude se comparada: os traços de Magritte ganham mais sentido se vistos à sombra do mais concreto Dali.

Mas não fujamos por demais do tema central neste momento: a Alice, esta que exerce sobre todos os demais papéis, o de heroína. J Campbell com suas infinitas possibilidades já definiu o herói como aquele ser capaz da submissão autoconquistada, aquele que vinga na árdua batalha contra as impenetráveis entranhas próprias. Alice não foi outra que são o personagem de quem falou o mitologista. Imersa nas profundezas do tempo, nas tortuosas incertezas de nossas próprias impenetráveis entranhas, iniciou sua jornada, ao seguir o coelho branco, de quem nos ocuparemos a seu momento. Por ora fiquemos com a jovem protagonista a cair no buraco sob a árvore no alto da colina.


______________________
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias
inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.
(C. Drummond de Andrade)
_________________________________



No ponto simbólico de contato com o transcendente, no cume do fluir entre o céu e a terra, no alto da colina havia uma árvore e nela a possibilidade da jornada. E qual não terá sido maior jornada do que a empreendida por aqueles que perderam a unidade transcendente do paraíso para alcançar a dor do tempo e o suor do espaço? E tudo pela maçã tentadora de ter conhecido, pela possibilidade do poder vir a ser, mas vir a ser o quê? Reflexo, quem sabe.


______________________
E agora, José?
(...)

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?
(C. Drummond de Andrade)
_________________________________



Tendo iniciado sua jornada sem saber que a jornada iniciava, a jovem Alice adentrou em terreno já antigo, no espaço secreto onde outrora transitava livremente e o terreno antigo pode ser palco para a fatídica viagem. No cume incerto do topo do mundo a tangenciar a além do mundo, a protagonista pode enfim imergir-se em si mesma e cavalgar os primeiros momentos de sua batalha que, como disse uma paciente minha, haveria de ser marcada por crescimentos e encolhimentos, superações e perdas: remodelação, metamorfose. A Alice que adentrava os negros portões de sua mente marchava ao encontro da libertação de si mesma, rumo ao poder vir a ser algo maior que seu ego. A Alice que se tornava gradativamente Alice viria a matar o dragão, a cobra-alada, mas não sem antes sacrificar-se em prol de algo maior, do transcendente em que, mesmo sem conhecer, acreditava.


______________________
Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.
Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.
A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.
Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.
Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.
E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.
(Fernando Pessoa)
_________________________________

Um comentário:

  1. GoSTEI MUITO do texto, Alice a heroina que vence seus medos , obistinada, fortalecendo o seu eu interno passa obstáculos e continua sua trajetória.
    O seu blog esta ótimo.Passarei sempre por aqui. beijos ANA BOSI

    ResponderExcluir

Deixe seus comentários e dê sua opinião.Isto me ajudará a melhorar sempre. Obrigada.